15/05/2025 | Notícia
A cidade de São Paulo muda o tempo todo - está em constante movimento urbano. Mas a arquitetura do restaurante Jacó respeita o tempo. O projeto assinado em colaboração dos escritórios Clube e Agencia TPBA, reinventa o espaço sem apagar sua história, partindo de uma ideia clara: não reconstruir artificialmente o que já foi, mas justapor um novo elemento arquitetônico, autônomo e legível.
“Em vez de buscar uma harmonia forçada, preferimos trabalhar com as camadas do tempo. No projeto, o sistema construtivo em aço entra como um novo capítulo, sem tentar imitar o passado”, explica Gabriel Biselli, do Clube Arquitetura. A casa dos anos 1970, que já modificada ao longo das décadas, foi encontrada totalmente aberta, sustentada por vigas metálicas. Essa condição foi o ponto de partida para a intervenção dos arquitetos.
A materialização dessa nova fase aconteceu através de uma parede metálica dobrada em L, que redefine tanto o espaço interno quanto sua relação com a cidade. “O Jacó não tem apenas um limite físico, mas uma transição. Criamos uma praça pública e uma varanda ajardinada, ampliando o restaurante para além dos seus limites”, afirma Priscila Bellas, da Agencia TPBA.
O Aço Como Dispositivo Urbano
Se a construção carrega o peso do tempo, o aço traz a precisão e a leveza necessárias para expandi-la. “A parede metálica não é um anexo qualquer. Ela estrutura a relação entre o antigo e o novo, criando novas dinâmicas espaciais dentro do lote”, destaca Thiago de Almeida, da Agencia TPBA.
A estrutura se desdobra em duas direções: Para dentro, prolongando o salão do restaurante em uma varanda semiaberta, que flui naturalmente para o ambiente interno; e para fora, criando um espaço público na esquina do lote – uma pequena praça onde a cidade encontra o projeto de forma espontânea.
No bairro da Vila Madalena, essa relação direta com o entorno é parte do DNA do Jacó. “Não queríamos um restaurante fechado, isolado. O sistema em aço nos deu a possibilidade de construir um espaço que se conecta com a rua e que muda ao longo do dia, conforme as aberturas se ajustam”, reforça Priscila Bellas.
Entre Memória e Modernidade
O grande trunfo deste projeto está na maneira como explora os contrastes. A casa original, mantida com suas marcas e texturas preexistentes, dialoga com a nova estrutura metálica, que se impõe como um elemento nitidamente contemporâneo. “A ideia nunca foi mascarar as transformações, mas evidenciá-las. O aço traz uma precisão geométrica que se contrapõe à materialidade mais orgânica da casa”, destaca Gabriel Biselli.
O próprio ritmo das aberturas da parede metálica reforça essa ideia. “Ao invés de alinhar tudo, optamos por respeitar os desencontros. As novas janelas não coincidem com as antigas, criando um jogo entre diferentes épocas”, explica Thiago de Almeida. Essa justaposição dá à obra um caráter dinâmico, onde o passado e o presente coexistem sem tentar se misturar.
Além de sua expressão arquitetônica marcante, o sistema em aço foi utilizado por sua eficiência construtiva, garantindo precisão e rapidez na execução da obra. A escolha por chapas galvanizadas seguiu uma lógica industrial bem planejada. “Trabalhamos com módulos de 120 cm, aproveitando as medidas padrão das chapas. Isso reduziu o desperdício e facilitou a montagem”, conta Priscila Bellas.
A precisão foi essencial para que a intervenção metálica se integrasse ao terreno sem a necessidade de adaptações no canteiro. “A fabricação foi totalmente pré-executada para reduzir ao máximo os erros em obra. O resultado é um sistema que se ajusta perfeitamente ao espaço, preservando a proposta original”, explica Thiago de Almeida.
Além de otimizar a construção, a estrutura foi projetada para acompanhar as transformações do espaço. O sistema modular possibilita ajustes dinâmicos na relação entre interior e exterior, garantindo flexibilidade, adaptação contínua e longevidade ao projeto.
Construir Sem Demolir
A visão sustentável na concepção do restaurante Jacó vai além da escolha dos materiais - ela está na própria estratégia do programa. “Optamos por adaptar o espaço, em vez de substituí-lo. Essa decisão não só manteve sua identidade, como reduziu drasticamente a geração de entulho e o impacto ambiental”, explica Gabriel Biselli.
O aço galvanizado reforça essa abordagem ao garantir durabilidade e baixa manutenção. “Ele exige menos intervenções ao longo do tempo e tem uma vida útil extensa, o que faz toda a diferença em um ambiente urbano como São Paulo”, acrescenta Priscila Bellas.
Mais do que um restaurante, o Jacó representa uma alternativa consciente à lógica da verticalização e das demolições que transformam a cidade sem considerar sua memória. “A Vila Madalena está mudando rapidamente, e queríamos que o Jacó fizesse parte dessa evolução sem simplesmente apagar o que já existia. Nossa intenção era intervir respeitando as camadas construídas ao longo dos anos”, ressalta Thiago de Almeida.
Inserido no tecido urbano como um espaço aberto e dinâmico, o Jacó não se limita ao seu terreno. “Criamos um lugar de encontro, que se conecta à cidade e à vida ao redor. Ele não impõe limites rígidos, mas convida a experiência urbana a fazer parte da sua essência”, conclui Biselli.
Restaurante Jacó
> Projeto Arquitetônico/ Arquiteto Responsável: Clube/ Agencia TPBA/ Gabriel Biselli, Thiago de Almeida e Priscila Bellas
> Fabricante da Estrutura em Aço: Allumiaço
> Execução da Obra:
Olerino Silva Obras
> Empresa Responsável pelo Projeto da Estrutura em Aço: AP Serralheria
> Área Construída: 200 m²
> Volume de Aço Empregado: 2,5 toneladas
> Conclusão da Obra: 2024
> Local: São Paulo, SP
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