Museu das Amazônias / Guá Arquitetura + be.bo. arquitetos

19/11/2025 | Notícia | ArchDaily

Descrição enviada pela equipe de projeto. O Museu das Amazônias (MAZ), espaço cultural dedicado a valorizar a ciência e a tecnologia da região, abriu ao público em Belém em 4 de outubro. O museu faz parte do Porto Futuro II, que compõe o conjunto de obras realizadas pelo Governo do Pará, deixadas como legado da COP 30 à capital paraense. O escritório paraense Guá Arquitetura e o carioca be.bo. arquitetos assinam o projeto no armazém de 3.100 m². Em paralelo, a dupla desenvolveu a expografia permanente do museu que será aberta em 2026.

Curadoria. O novo museu da Secretaria de Cultura do Estado do Pará, implementado pelo IDG em parceria com o Museu Paraense Emílio Goeldi, nasce com o objetivo de mostrar as diversas Amazônias que existem nos nove estados brasileiros e em outros oito países. Com curadoria de Francy Baniwa, Joice Ferreira e Helena Lima, o local oferece experiências imersivas e sensoriais, que refletem as vivências das comunidades urbanas, indígenas, extrativistas, quilombolas e ribeirinhas que compõem a Amazônia.

Arquitetura. Os arquitetos transformaram o armazém de 3.300 m² em um percurso organizado em dois níveis. O térreo, com 2.000 m², abriga o espaço expositivo, o foyer e a loja. Já o mezanino, com 1.100 m², abriga a sala de exposição temporária, uma sala multiuso e o espaço criativo, pensado para diferentes ativações culturais. A cobra é um elemento recorrente de diferentes cosmovisões amazônicas. Encantados como a Boiúna, a Cobra Canoa e a Cobra Grande serviram de inspiração para a identidade do museu e para vários elementos do projeto.

A serpente inspirou o desenho dos bancos da entrada, que criam um espaço de encontro e permanência. As peças são assinadas pela be.bo. e Guá e produzidas pela Vedac. "Usamos mais de 15 espécies de madeiras amazônicas de manejo sustentável. Isso virou uma xiloteca, uma biblioteca de madeira a serviço da população. É também uma forma de explicar ao público que existe uma diversidade de madeiras enorme na Amazônia." conta Luis Guedes, sócio da Guá.

A fachada do galpão recebe uma intervenção artística coletiva, chamada "A Serpente é um Corpo que Une Mundos". 16 artistas da Pan-Amazônia intervêm em um mural em forma de cobra grande. Já o logo, desenvolvido pela Agência Libra, é esculpido em marchetaria pelo artesão acreano Maqueson Pereira da Silva, da Marchetaria do Acre.

A exposição começa pelo foyer, um ambiente que busca aterrar e preparar o visitante para a mostra. O espaço tem luz baixa e paredes avermelhadas, pintadas com a mesma tinta que os indígenas marajoaras usavam nas suas cerâmicas e pinturas corporais. Todas as paredes internas do museu foram pintadas com essa geotinta feita com barro, uma pesquisa dos escritórios com o ateliê Mãos Caruanas, empresa de joias em cerâmica na Ilha do Marajó (PA). "Esse museu tem muitas camadas. O piso ali tem sentido, a textura da parede tem sentido, tudo tem sentido. Toda arquitetura fala alguma coisa.", conta Bel Lobo, sócia da be.bo. arquitetos

Um grande globo de LED transmite a obra "Simbiosfera", da artista Roberta Carvalho, que destaca a centralidade da Amazônia no imaginário global. "O globo fica entre os dois níveis do museu. Ele foi preso no teto para dar a sensação de que está flutuando do ponto de vista dos visitantes. Se a pessoa estiver perto do guarda-corpo no primeiro andar, vai conseguir ver o globo todo", explica Pablo do Vale, sócio da Guá Arquitetura. No primeiro pavimento também é possível ver o térreo.

No térreo, ainda há uma loja de 60 m², onde o mestre carpinteiro Edson Rodrigues, da Ilha do Murutucu (PA) fez uma estante expositora sob medida, e o artesão Ivan Leal, de Abaetetuba (PA), assina uma grande luminária feita com raízes coletadas na praia, onde pousam 150 pássaros esculpidos de miriti, fibra de miritizeiro. O mezanino reserva 500 m² para exposições temporárias e 77 m² para o espaço criativo, idealizado como uma área livre para os visitantes ou uma extensão de exposições temporárias. A sala multiuso de 150 m² foi projetada com estrutura modular, que permite abrigar 130 pessoas sentadas ou dividir o ambiente em três salas separadas.

Expografia Permanente. Prevista para julho de 2026, a mostra permanente promoverá um passeio cronológico pela história da Amazônia, da formação geológica às perspectivas de futuro. Dividida em seis etapas, a expografia irá abordar temas como a diversidade biocultural, as tecnologias ancestrais, a relação entre abundância e floresta, e as crises ecológicas atuais.

Um dos destaques será um ambiente imersivo em forma de espiral, revestido por uma cortina de taboa. No centro, uma nuvem composta por 5.000 animais de miriti servirá de suporte para projeções. Outro ambiente, o Espaço Aturá, convida o público a entrar em um grande cesto indígena baniwa, onde é possível compreender a relação entre as constelações e os ciclos de plantio e colheita na cosmovisão indígena.

A exposição segue por diferentes ambientes até se encerrar nas "soluções do bem viver", um espaço que inspira os visitantes a sonhar com o futuro da região — seja por meio das festas urbanas, que incorporam elementos futuristas e disruptivos, seja pelo encontro com atores sociais que lutam pela preservação da floresta.

O Museu das Amazônias é realizado por muitas mãos, no princípio "ajurí", conceito que remete a mutirão, trabalho coletivo que mobiliza, organiza e cuida — uma prática muito viva nas comunidades amazônicas. "Tudo que a gente quer é que as pessoas se envolvam, compreendam e fiquem mais integradas. Gostaria que saíssem do museu com novos valores e vontade de cuidar, cada um por si. A gente sabe que a mudança começa dentro", é o desejo da arquiteta Bel Lobo, sócia-fundadora da be.bo. arquitetos

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