24/07/2025 | Notícia | ArchDaily
Descrição enviada pela equipe de projeto. Transformar um estacionamento de três andares em uma galeria comercial. Em resumo, esse foi o pedido do cliente. No início de cada projeto, buscamos entender qual é o objetivo a ser alcançado e, só então, usamos a arquitetura como ferramenta para atingir esse fim. Não tendemos a acreditar que a arquitetura, por si só, possui valor; o valor está no que ela causa, nos objetivos peculiares que se alcançam. "Arquitetura é Ação", Giancarlo Mazzanti.
Neste caso, precisávamos transformar uma construção genérica de estacionamento em uma galeria comercial — ou seja, trazer pessoas para dentro do edifício. Chegamos a um objetivo claro: converter o tipo mais inestético de espaço — um estacionamento — em um edifício sedutor. Para nós, atrair pessoas para visitar o espaço seria a validação do nosso trabalho como arquitetos contratados para esse projeto específico. Essa seria a contribuição que faria sentido oferecer a esse cliente, na tentativa de fazer com que seu empreendimento funcionasse e, se possível, fosse um sucesso. O edifício existente foi construído com um sistema estrutural pré-moldado de concreto e lajes alveolares, contendo rampas de acesso para veículos que faziam a ligação entre os andares, sendo o térreo meio nível acima da rua.
Com a eliminação das rampas, que seriam inúteis na nova configuração, posicionamos as escadas nos vãos resultantes, definindo a circulação vertical. Havia também o problema de acessibilidade logo na entrada, com o desnível entre o primeiro pavimento e a rua. Sempre que nos deparamos com problemas de acesso vertical, preferimos soluções arquitetônicas, como rampas, a soluções mecânicas, mas neste caso específico, após várias simulações, a solução da rampa se mostrou inviável devido à área útil que ocuparia. Assim, mudamos a posição do elevador, que ficaria ao lado da escada, para a entrada, resolvendo o problema do pavimento térreo e fazendo a ligação com os demais andares.
Com a circulação vertical resolvida, partimos para resolver os boxes, que deveriam ser, ao mesmo tempo, padronizados e flexíveis como espaço. Definimos uma dimensão modular padrão para os boxes a partir das medidas do edifício, descontando a circulação e a dinâmica de ocupação central que aconteceria em momentos futuros. Esse módulo padrão pode ser combinado em múltiplos, criando boxes maiores. Para dar suporte a essa dinâmica — tanto de espaços quanto de diferentes tipos de comércio — foi desenvolvida uma divisória móvel eletrificada com tomadas e trilhos embutidos para prateleiras e suportes de produtos.
Foi escolhido um piso do tipo monolítico para se estender por todo o projeto como um líquido despejado de um grande balde, subindo paredes, descendo escadas e pintando diferentes superfícies com uma cor que representasse leveza, delicadeza, energia, frescor e alegria. Ainda não sabemos se a cor em questão, da forma como foi aplicada, tem potencial para evocar todos esses sentimentos, mas foi a que mais se aproximou deles nas discussões internas e externas.
Na entrada da galeria, foram removidas as lajes do primeiro andar, criando um pé-direito duplo necessário para a nova configuração, já que o teto existente era relativamente baixo, o que não geraria um convite à visitação e poderia provocar sensação de claustrofobia em algumas pessoas. Na cobertura da entrada, criamos um forro paramétrico em consultorias realizadas com Thomas Takeuchi, da Takê Consultoria. A ideia era dar mais organicidade ao conjunto de concreto pré-moldado, criando um elemento que chamasse a atenção dos passantes e, ao mesmo tempo, fosse de fácil execução. Além da cobertura orgânica, convidamos o artista visual Adriano Franchini para criar um painel em uma das paredes internas, trazendo ainda mais vitalidade à entrada, reforçando assim o convite.
Devido à necessidade de ampliar a entrada de luz natural e ventilação no projeto, também removemos a estrutura do mezanino nos fundos. E como estratégia de convite e divulgação orgânica da galeria, criamos uma grande rede nesse espaço para que os visitantes desfrutem de um espaço comercial com uma experiência totalmente diferente, sem a necessidade de pagar por isso. Ao longo de todo o projeto, buscamos gerar alguma gentileza urbana, que reforçasse a sensação de bem-estar em viver em determinada cidade. Criamos por meio de narrativas.
A possibilidade de uma família passeando pela região, entrando na galeria, sentando-se na rede, pulando, se divertindo, sem precisar pagar por isso — e tudo isso em um espaço privado — é, no mínimo, uma gentileza, uma cordialidade, algo tão raro nas grandes cidades, especialmente na dura São Paulo. E esse gesto não causará prejuízos ao proprietário, pelo contrário, o espaço está sendo conhecido e divulgado organicamente nas redes sociais, gerando fluxo para a galeria. Criar mecanismos arquitetônicos que permitam investimentos privados em colaboração para melhorar a condição da vida urbana, ao mesmo tempo em que trazem retorno para o investidor, é um novo paradigma de atuação em projetos.
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