11/12/2025 | Notícia
O antigo Ginásio Vocacional, em São Caetano do Sul (SP), atravessou regimes e usos: nasceu em 1968, foi extinto pela ditadura, depois seguiu como escola pública, foi municipalizado e fechou há pouco tempo para uma obra de requalificação. Reabriu com outra respiração. A equipe do escritório Carolina Penna Arquitetos costurou passado e presente com sistema estrutural em aço: a acessibilidade virou desenho, os vãos ganharam leveza e a quadra coberta manteve-se aberta à cidade.
Readequar o edifício para Educação Infantil e Ensino Fundamental exigiu uma modernização capaz de reorganizar fluxos, incorporar acessibilidade e agregar novos usos. “A escolha pelo sistema estrutural metálico nesse retrofit aconteceu em função de vários benefícios — técnicos, estéticos e simbólicos — que foram se somando até que a solução ideal se revelasse”, destaca a arquiteta Carolina Penna.
Da diretriz inicial surgiu a ideia clara: “Decidimos que todas as novas intervenções nesse patrimônio histórico seriam feitas em estrutura metálica”, conta a arquiteta. Em aço foram criadas escadas, elevadores e passarelas de conexão entre níveis. Essas peças costuram o campus, garantem acessibilidade e acrescentam leveza visual sem competir com a volumetria original. No canteiro, a rapidez construtiva e a capacidade de vencer grandes vãos com estruturas esbeltas foram determinantes, o que tornou natural a adoção do sistema metálico na quadra coberta e nas passarelas”, completa Carolina Penna.
A materialidade articula o novo ao existente. Ao aço somam-se policarbonato e vidro, compondo uma paleta metálica, translúcida e transparente. “O policarbonato foi adotado no fechamento do ginásio e também na torre de elevadores, além de requalificar passarelas existentes que antes eram muito fechadas, trazendo mais luz e permeabilidade”. À noite, o conjunto emite brilho difuso; de dia, filtra e distribui a luz sem acrescentar massa.
O projeto reposiciona o espaço aberto como parte do currículo de uma escola que funciona em período integral. Antes subutilizada, a grande área externa foi planejada para usos pedagógicos, recreativos e de descanso. Quadras, playgrounds, passarelas e o novo ginásio foram pensados como estruturas abertas, leves e permeáveis, capazes de criar sombras generosas e ambientes de convívio. As passarelas resolvem desníveis, organizam fluxos e desenham áreas de estar sob sua projeção, convertidas em pontos de encontro e múltiplas atividades.
Na quadra coberta, a decisão foi ambiental e urbana: “A quadra foi projetada sem se fechar completamente: o pé-direito aberto ao nível do solo garante ventilação cruzada, continuidade com os jardins e integração natural com o restante da área externa”, afirma Carolina Penna. Assim, o edifício respira, mantém continuidade espacial com os pátios e amplia o repertório de usos.
Em termos de linguagem, o contraste é deliberado e respeitoso. O novo se apresenta como infraestrutura contemporânea que explica o antigo, em vez de disfarçá-lo. “Essa paleta — metálico, translúcido e transparente — introduz uma linguagem contemporânea que se conecta com a memória do edifício modernista de 1968 sem apagá-la”, ressalta a arquiteta.
O saldo é arquitetônico e cívico. Atualizar e ampliar o patrimônio significou reduzir desperdícios, prolongar a vida útil e restabelecer um projeto educacional inclusivo. “O sistema em aço trouxe a leveza, a agilidade e a clareza arquitetônica necessárias para reescrever a memória do edifício com respeito e, ao mesmo tempo, projetar sua vida para o futuro”, sintetiza Carolina Penna.
Ficha Técnica
COMPLEXO EDUCACIONAL SANTA MARIA
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