10/12/2025 | Notícia
A Casa DGB, no bairro do Humaitá, Rio de Janeiro, responde ao articular estrutura e programa com precisão. Assinada pelo escritório Fossati Arquitetura para o economista Guilherme Bragança e a designer Danielle Freitas, a residência demonstra que escolhas estruturais calibradas podem extrapolar o lote e qualificar a relação com o entorno. O projeto substitui a construção anterior, mas preserva a varanda tombada - como parte viva do novo desenho.
O enredo é vertical: quatro pavimentos sobre módulos em aço aparente, com esquadrias de vidro e venezianas de cumaru que qualificam as aberturas. No topo, a cobertura com piscina e lazer encerra o percurso como um terraço que devolve ao bairro a visão do céu.
Para o arquiteto Rodrigo Fossati, o desempenho da estrutura em aço - com vigas esbeltas e poucos apoios laterais - libera o centro das plantas para utilização plena do espaço e panos de janela contínuos.
A modulação do arcabouço viabiliza vãos generosos com apoios pontuais, organiza o volume à escala residencial e confere clareza ao conjunto, medindo, ajustando e cadenciando o processo de obra. “Em um terreno reduzido e desafiador, a estrutura em aço diminuiu o tempo de construção e possibilitou uma obra muito mais limpa”, destaca o arquiteto. A clareza estrutural reduz apoios e dá protagonismo às aberturas - onde a luz ajuda a estruturar o espaço.
A intenção do projeto se condensa em um detalhe decisivo: no banheiro do casal, a eliminação do pilar de quina permite a esquadria em “L”; a intimidade se projeta para o exterior com naturalidade rara numa cidade de compromissos estruturais — um gesto pequeno, cotidiano, que evidencia como a solução em aço prioriza uso e eficiência sem sacrificar conforto e privacidade.
Se o conjunto metálico fornece racionalidade, ele também garante tempo — o da obra e o do futuro. A residência foi construída em etapas: primeiro, até o terceiro pavimento; depois, a área de lazer. “A estrutura metálica possibilitou a continuidade sem a casa parecer inacabada”, diz Rodrigo Fossati. Este é um ponto pouco celebrado quando falamos em arquitetura residencial: a capacidade de uma estrutura acolher biografias em curso, não apenas programas prontos. Na Casa DGB, o módulo é uma métrica de flexibilidade.
É curioso que, no Brasil, aconchego ainda seja quase sinônimo de materiais tradicionais. A Casa DGB, porém, fala de conforto em outro idioma: o do contraponto material. O aço convive com tijolos reaproveitados, gesso e cimento queimado; no piso, tacos em espinha-de-peixe desenham uma memória tátil que aquece a experiência.
Vilas cariocas são organismos de proximidade: ruas estreitas, ruídos e silêncios compartilhados. Tornar o sistema construtivo em aço visível nesse contexto é, além de uma escolha estética, também uma mensagem. “Não penso em construção modular — como é o caso em uma vila — sem o uso do aço”, afirma Rodrigo Fossati. O que se insinua, então, é uma estratégia de futuro: obra seca, modulação, menor desperdício e montagem limpa.
O resultado é a convergência entre arquitetura e engenharia, com critérios claros e memória preservada: a estrutura em aço organiza a casa, reduz apoios e agiliza a obra; luz e ventilação naturais qualificam os ambientes; o mobiliário reforça conforto e uso; a varanda preservada mantém o vínculo com o contexto original; a cobertura amplia o programa com lazer, água e vista; a implantação é compacta, o aproveitamento de área é alto e o desempenho final supera o esperado para a dimensão do lote.
Ficha Técnica
Casa DGB
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