Alfaiataria estrutural no Museu do Ipiranga

06/05/2021 | Notícia | Revista Arquitetura & Aço - Edição 58 - 06 de maio de 2021

Imagine criar um projeto estrutural em aço para a obra de ampliação e revitalização do Museu Paulista, também conhecido como Museu do Ipiranga, um edifício monumento neo-renascentista, construído para celebrar a Independência do Brasil em 1822. Este foi o grande desafio criativo da engenheira Heloisa Maringoni, da Companhia de Projetos.

“O sistema em aço foi escolhido porque o Museu, por ser um edifício tombado, tinha limitações quanto as dimensões de peças, detalhes de vinculação, poucos pontos possíveis de apoio e necessidade de prontidão na performance estrutural”, explica Heloisa. “Como dizia Paul Klee (pintor suíço naturalizado alemão), toda limitação é um apoio”.

O sistema estrutural em aço ajudou a dar uma resposta objetiva, rápida e limpa, segundo a engenheira, para não haver conflito com o delicado trabalho de restauro do edifício monumento, que deveria acontecer simultaneamente no sentido de atender dificuldades da obra e do cronograma. É importante destacar que o Museu Paulista deverá reabrir em 2022, durante as comemorações do Bicentenário da Independência.

O grande objetivo dessa restauração é - sobretudo - revelar de maneira nova o que já estava lá no museu. Portanto, a ênfase dos novos elementos é o desempenho e a eficácia em dinamizar e potencializar as virtudes preexistentes.

A engenheira conta que as estruturas de aço trouxeram, entre as vantagens, harmonia com os elementos de madeira e ferro fundido da construção original, redução das áreas de interferência e canteiro de obras, transporte por acessos limitados, montagens precisas e esbeltez dos elementos.

O sistema em aço ofereceu agilidade ao projeto, garante Heloisa Maringoni. Só para se ter ideia, os primeiros desenhos de fabricação chegaram para comentário no dia 20 de julho de 2020 e a grande treliça foi montada em 5 de outubro do ano passado. “Hoje, 80% da estrutura em aço já está montada”.

No caso do Museu Paulista, de acordo com a conceituada engenheira, o ganho de tempo é importante, mas a logística é mais. “O tempo não é só definido pela execução, muitas vezes pela substituição ou reforço de estruturas existentes, que devem ser preparadas previamente para a intervenção”, afirma Heloisa. “Houve casos em que não havia previsão para seu uso, mas ao iniciar os trabalhos da recuperação de peças de madeira, o aço se fez presente. Sem dúvida, ele oferece a agilidade que a obra demanda”.

Grande parte da estrutura em aço é usada na ocupação de áreas originalmente “cenográficas”, parte da volumetria na composição do edifício: coberturas e vazio no torreão central.

“A arquitetura viu ali a possibilidade de um mirante e conexões entre os torreões central, leste e oeste”, afirma Heloisa. “Esses novos elementos deveriam permitir acesso sem alterar a fachada. A estrutura em aço viabilizou este desejo através da sua transparência e possibilidade de execução com desempenho estrutural imediato”.

É fundamental destacar também que as estruturas em aço trouxeram ganhos em termos de sustentabilidade. “O projeto teve a preocupação de reuso de materiais, como os barrotes em peroba rosa na composição dos novos pisos sobre as estruturas em aço, e nestas, a durabilidade e manutenção”, diz a engenheira.

Heloisa costuma dizer que faz um trabalho de ‘alfaiataria estrutural’. “Alfaiataria é a roupa sob medida, feita especialmente para aquele corpo, tem que ser justa, confortável, especial”, compara. “Cada obra é um protótipo, uma experiência nova, que vai se valer de todas as outras já feitas como conhecimento, mas não como repetição. Não há zona de conforto, mas desafios”.

Este novo projeto, com certeza, fará com que o Museu Paulista seja compatível aos grandes museus internacionais. “Este foi o objetivo maior e não apenas a adequação às demandas de espaço público e restauro do monumento”, confirma Heloisa. “Nas novas instalações do edifício anexo, haverão espaços para salas de exposição temporárias, auditório, salas educativas, salas administrativas, recepção e café, integrados ao jardim e ao parque”.

O Museu terá uma área nova de 6.800 m² e, assim, a visitação pública na instituição será ampliada de forma significativa, podendo receber um público acima de 500.000 visitantes por ano.  

Ficha Técnica:

Fabricante da Estrutura Metálica / Projeto Estrutura de Aço: Companhia de Projetos Ltda.
Projeto Arquitetônico / Arquiteto Responsável: H+F Herenu+Ferroni Arquitetos / Pablo Hereñú
Execução da Obra: Concrejato
Área Construída: Edifício monumento (ampliação 700m², restauro 2135m²) - edifício anexo (6318 m² arquitetura, 11550m² estrutura)
Volume de Aço Empregado: 120 toneladas
Conclusão da Obra: Outubro de 2022
Local: São Paulo, SP

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