30/06/2022 | Notícia | Revista Arquitetura & Aço - Edição 61
A Ponte Juscelino Kubitscheck (JK), que liga o Lago Sul à área central de Brasília, ganhará a primeira reforma em duas décadas de existência. Projetada pelo arquiteto Alexandre Chan e considerada uma das mais belas e harmônicas edificações do mundo, a JK contará com reparos estruturais e outros serviços complementares, com uma obra estimada em R$ 44 milhões, que deve ser entregue até agosto de 2023.
“A premissa de recuperação, reforço e revitalização da Ponte JK é baseada em garantir que as atividades de manutenção possam ser realizadas com menor impacto possível aos usuários, minimizando o custo social de interdição temporária das vias ou situações restritivas do tráfego da ponte”, afirma Ronaldo Oliveira de Almeida, engenheiro civil da Novacap – Companhia Urbanizadora da Nova Capital.
Ele conta que essa ação na ponte – após 20 anos de sua inauguração - visa prevenir a ocorrência de rupturas localizadas, que venham causar prejuízos aos usuários e exigir a interdição parcial ou total das pistas da ponte JK. “Isso provocaria um elevado custo socioeconômico para Brasília, diante de sua relevante importância viária para a cidade”, avalia Ronaldo.
O engenheiro Filemon Botto de Barros, especialista em estruturas e um dos responsáveis pelo desenvolvimento do projeto de engenharia e cálculo para a construção do empreendimento, inaugurado em 2002, faz um alerta: “A reforma é extremamente necessária em função dos 20 anos de total falta de conservação (limpeza, pinturas e pequenos consertos) e de manutenção (medições, controles e consertos preventivos previstos em projeto)”.
O engenheiro Filemon explica que a Ponte JK, como todas as obras de grande porte, envelhece de forma natural, em função das intempéries a que estão expostas. “A região do Planalto Central, onde se localiza Brasília, tem a característica climática de baixa umidade, que não é agressiva ao aço, mas castiga o concreto dos pilares e blocos, pela grande retração que sofrem, desde o início da sua vida útil”, afirma.
É importante destacar que o belíssimo marco arquitetônico tem cerca de 1,2 mil metros de extensão por 24 metros de largura. Possui três pistas em cada sentido, dois passeios para pedestres e três arcos de 240 metros cada. A estrutura conta com 14.500 mil toneladas de aço, por onde passam, em média, 70 mil veículos por dia.
Segundo a Novacap, os trabalhos na ponte seguirão de acordo com os estudos: Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos de Construção Civil; Estudo de Impacto de Trânsito (RIT) durante a execução da obra; Recuperação de Áreas Degradadas; Sinalização Viária Permanente, de acordo com o CONTRAN; Sinalização Náutica Permanente, conforme orientações da Marinha; e Atracadouro em madeira no Encontro E2, na margem Lago Sul.
“Na elaboração do projeto executivo e do respectivo plano de execução de obra, foi priorizado o pleno funcionamento da ponte, de modo que, durante toda a fase de execução dos serviços estruturais, o equipamento público (a ponte e vias de acesso) opere normalmente, com o mínimo de intervenção possível”, explica o engenheiro Ronaldo Oliveira de Almeida.
Ele afirma que serão usadas quase 14.500 toneladas de aço na reforma. “Serão executados o reforço e a recuperação estrutural de todos os pilares e blocos de fundação, recapacitação do sistema de aparelhos de apoio, reabilitação das juntas de dilatação e do sistema de sustentação do tabuleiro e troca dos cabos de aço. Além dos reparos estruturais, a ponte receberá nova pintura, pavimentação asfáltica, recuperação da ciclovia e novo sistema de fechamento do guarda- corpo.”, diz o engenheiro da Novacap.
A IMPORTÂNCIA DO SISTEMA DE AÇO
Está prevista ainda uma completa revitalização do sistema de pintura da ponte para que ela tenha durabilidade mínima de 25 anos, de acordo com Ronaldo. “Seguindo normas de padrão nacionais e internacionais, serão aplicadas tinta à base de polisiloxano para o substrato metálico e tinta à base de poliuretano para os substratos em concreto”, garante Ronaldo.
Filemon Botto de Barros destaca que o sistema de aço viabilizou a concepção e o projeto da Ponte JK, há 20 anos, com estabilidade e arrojo, em função da esbeltes dos arcos metálicos e dos tabuleiros, permitindo o desenvolvimento do projeto executivo, fabricação e implantação em um prazo de 24 meses.
Ele explica que, no caso da Ponte JK, a superestrutura é formada por dois tipos de tabuleiros: os vãos laterais são formados por tabuleiros em estrutura mista, com viga caixão de aço e laje de concreto; e os vãos estaiados são formados por tabuleiros em caixão metálico, com laje ortotrópica de aço.
“Em ambos os casos, o uso do aço permitiu antecipar o prazo da obra, pois enquanto eram executadas as fundações, os tabuleiros em aço eram fabricados nas duas margens para depois serem empurrados para a posição definitiva de apoio”, conta Filemon.
O engenheiro completa: “Da mesma forma, em obra urbanas, em regiões de malha viária intensa, as soluções de pontes e viadutos em aço são cada vez mais adotadas pela maior facilidade de transporte e montagem e também pela esbeltes final das edificações”.
CURIOSIDADES
ENTREVISTA COM O ENGENHEIRO FILEMON BOTTO DE BARROS
REVISTA A&A: Fale livremente sobre o projeto conceitual da Ponte Juscelino Kubitschek?
A Ponte JK apresenta características estruturais e arquitetônicas únicas dentre as pontes correntemente projetadas, se destacando de forma especial em função dos conceitos estruturais singulares adotados no seu projeto, no dimensionamento, no detalhamento, no planejamento construtivo e em todas as etapas da sua execução.
Trata-se de fato de uma das mais belas e harmônicas pontes já projetadas, com grande esbeltez e arrojo das soluções estruturais e arquitetônicas adotadas.
Após 20 anos, qual a importância da reforma na ponte, um dos mais belos cartões postais de Brasília e do Brasil?
A importância dos serviços de conservação e da manutenção de qualquer ponte ou viaduto, tem por objetivo a garantia do seu uso, com segurança, ao alongo da sua vida útil. Estes deveriam ser os serviços desenvolvidos e aplicados na Ponte JK, durante sua vida útil.
Normalmente somente se reforma uma Ponte, com 20 anos de uso, por modificações obrigatórias na sua geometria inicial, ou para concertar defeitos de origem, ou para aumentar a capacidade de suporte da estrutura, por alteração das condicionantes de carregamento nas Normas de Projeto.
No caso da Ponte JK, a reforma será necessária, em função dos 20 anos de total falta de conservação (limpeza, pinturas e pequenos consertos) e de manutenção (medições, controles e consertos preventivos já previstos).
A obra é urgente?
No caso da Ponte JK, pelas razões acima colocadas, hoje a reforma é inadiável e fundamental para o reestabelecimento das condições originais de segurança estrutural. É de suma importância que seja promovido e implementado de imediato pelo Governo do DF, um programa de trabalho com esta finalidade.
Ao longo do tempo, quais são os tipos de agressões que uma ponte do tipo da JK sofre?
A Ponte JK, como todas as obras de grande porte, envelhece de forma natural, em função das intempéries a que estão expostas. A região do Planalto Central, onde se localiza Brasília, tem a característica climática de baixa umidade, que não é agressivo ao aço, porém castiga o concreto dos pilares e blocos, pela grande retração que sofrem, logo no início da sua vida útil;
Por ser uma obra de grande complexidade técnica, na sua visão, quais são os desafios e as prioridades desta obra na ponte JK?
Os grandes desafios técnicos estão localizados na troca ou reparação dos estais e suas ancoragens, na substituição e reparo dos diversos aparelhos de apoio, no reparo e substituição das juntas de dilatação e também, nos eventuais reparos que venham a ser necessários na parte submersa dos blocos de apoio.
Porém, provavelmente o grande desafio será o planejamento para a execução simultânea dos três itens acima mencionados, sem grandes interrupções, ou restrições ao intenso fluxo de veículos, que hoje trafega na Ponte JK.
E como deve ser feito um programa de recuperação dessa magnitude?
De forma simples, deve ser seguido a rotina prevista para contratações desta natureza, com:
- Contratação de empresa de projetos com capacidade técnica comprovada e experiência em projeto de pontes estaiadas, para elaboração de um projeto básico, desenvolvido a partir de detalhados levantamentos de campo, realizados sob a coordenação do órgão contratante e da empresa de projeto, abordando todos os itens significativos. Este projeto básico deverá apresentar os quantitativos e o conceito a serem adotados no futuro projeto executivo, os principais detalhes que deverão ser posteriormente desenvolvidos, as especificações técnicas, a serem atendidas, as metodologias construtivas que garantam a estabilidade da ponte em todas as etapas da obra de reforma e um orçamento confiável, calculado com base nos quantitativos levantados no escopo do projeto básico;
- Contratação de empresa construtora de comprovada experiência em execução ou recuperação de pontes estaiadas, que executará a obra de reforma e recuperação, associado à uma empresa de projetos de comprovada experiência em projeto de execução ou recuperação de pontes estaiadas, que obrigatoriamente irão detalhar a nível de projeto executivo, os conceitos e detalhes apresentados no projeto básico;
Obs: Os contratos de projeto básico e de projeto executivo deverão ser submetidos a uma verificação de uma 3ª empresa de engenharia, plena capacitada, que fara um completo processo de CQP-Controle de Qualidade de Projeto.
Da mesma forma, em obra urbanas, em regiões de malha viária intensa, as soluções de viadutos em aço, são cada vez mais adotadas, pela maior facilidade de transporte e montagem e pela esbeltez final das pontes e viadutos.
Por que a JK merece o título de uma das pontes mais belas do mundo?
Talvez pela sua leveza e harmonia de suas proporções, pela paisagem do Lago de Paranoá, além de ter resgatado a utilização dos ARCOS, como principal elemento portante, e que são os mais antigos elementos estruturais utilizados a partir dos Romanos.
Ela pode ser considerada uma escultura utilitária? Por quê?
Sim, certamente, pois toda a sua Arquitetura é baseada e proveniente dos elementos estruturais portantes, não havendo no seu Design elementos de composição ou de harmonização;
O outro ponto fundamental é que a ponte JK, pela sua localização e extensão, é uma conexão urbana fundamental para o conforto dos moradores do Lago Sul de Brasília, cumprindo de forma ampla as funções de equipamento urbano, técnica de engenharia, estética e paisagística, monumental e cultural.
Em termos de expressão arquitetônica, o que o sistema de aço representa para a ponte JK?
O sistema em aço, na verdade viabilizou a concepção e o projeto com estabilidade e arrojo, em função da esbeltez dos arcos metálicos e dos tabuleiros, permitindo o desenvolvimento do projeto executivo, fabricação e implantação em um prazo de 24 meses.
Estruturalmente, qual a maior inovação em arquitetura e engenharia do projeto da JK?
As inovações da ponte JK envolvem:
- O resgate na utilização dos arcos, como elemento principal de uma Obra de Arte Especial – OAE;
- Utilização de estais tensionados (protendidos) para suporte dos tabuleiros nos arcos;
- Ponte curva em planta, com os arcos em ziguezague sobre o tabuleiro, o que proporciona perspectivas únicas para cada posição possível, para todos os observadores.
Ponte Juscelino Kubitschek (Original)
Fabricante da Estrutura Metálica: Usiminas Mecânica
Projeto Estrutura de Aço: PROJCONSULT Engenharia de Projetos
Projeto / Engenheiro Responsável: Engenheiros Mario Vilaverde, Filemon Botto de Barros, Carlos Alberto Fragelli e Ulisses Cordeiro.
Execução da Obra: Consórcio Via Engenharia / Usiminas Mecânica
Área Construída: 28.800 m²
Volume de Aço Empregado: 14.500 toneladas
Conclusão da Obra: Dezembro de 2002
Local: Brasília, DF
Ponte Juscelino Kubitschek (Reforma)
Fabricante da Estrutura Metálica: Usiminas Mecânica
Projeto Estrutura de Aço: PROJCONSULT Engenharia de Projetos
Projeto / Engenheiro Responsável: Eng. Mario Vilaverde
Execução da Obra: Concrepoxi Engenharia
Área Construída: 28.800 m²
Volume de Aço Empregado: 14.500 toneladas
Conclusão da Obra: Agosto de 2023
Local: Brasília, DF
Revista Arquitetura & Aço - Edição 61
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