O verdadeiro significado do termo

06/01/2021 | Notícia | Revista Arquitetura

Caro leitor, você sabe o que é Tiny House? São mini casas que podem ser construídas sobre plataforma fixa no terreno ou transportável, isto é, sobre rodas. Elas têm uma área de – no máximo – 37m² e são construções sustentáveis, feitas sob medida para os moradores que prezam pelo uso inteligente do espaço.
É um novo conceito de morar de forma consciente”, responde Camilla Pereira, arquiteta do escritório Porto Quadrado “Para a arquitetura minimalista, as Tiny Houses representam uma nova experiência de viver o espaço, de se conectar com ele de forma simples e pura. Viver apenas o essencial”.

Com projetos inovadores e ambientes multifuncionais, o conceito surgiu nos Estados Unidos e já se espalhou por Canadá, Austrália, Nova Zelândia e toda a Europa, antes de chegar ao Brasil. Vai além de ter uma casa pequeninha, é um estilo de vida.

“Queríamos uma vida livre, simplificada e com baixo impacto ambiental, que nos desse a mobilidade de morar em diferentes lugares do Brasil, mas sem perder o conforto de uma casa. E a Tiny House sobre rodas apareceu como a opção perfeita unindo tudo isso”, conta Robson Lunardi, que ao lado da esposa Isabel Albornoz e do filho João Pedro, vive em uma minicasa aqui no País.

A Tiny House da família, que ganhou o nome de Ararauna, é a primeira oficialmente homologada em território nacional. De acordo com Isabel, as casinhas sobre rodas ganham nome de batismo por não possuírem endereço fixo. “Fizemos uma homenagem a uma das maiores aves brasileiras: a Arara Azul, que também é conhecida como arara-preta ou arara-una”, ela conta.

Outra coisa: o aço colabora muito na construção dessas residências totalmente minimalistas. Principalmente, segundo a arquiteta Camilla Pereira, pela combinação de rapidez e versatilidade. “Além disso, o sistema construtivo em aço também é importante pela rigidez e leveza que oferece para as Tiny Houses”, analisa. “Ele (aço) pode ser usado em tudo: na estrutura, nas esquadrias, nos revestimentos e também nos fechamentos”.

Uma das obras assinadas por Camilla, batizada de Casas Alpes São Chico (veja nas fotos), está inserida em meio à natureza do município de São Francisco de Paula, na Serra do Rio Grande do Sul. Usando 1440 quilos de aço (Aço 1020; ASTM-A36), foram construídas três Tiny Houses, com 35m² cada uma. O espaço é funcional e possui banheiro, quarto, sala, cozinha e até mesmo área para churrasqueira.

A arquiteta do escritório Porto Quadrado conta que o investimento em uma minicasa é de aproximadamente R$ 2 mil por m². Camilla afirma que uma Tiny House construída em aço pode ficar pronta em apenas 10 dias. “Elas são produzidas dentro da indústria e costumam chegar prontas ao local, apenas faltando a instalação de água e luz”.

Ela conta que a pandemia provocou uma enorme demanda para as minicasas. “Acredito que o isolamento despertou outros interesses nas pessoas”, analisa a arquiteta. “Depois do choque inicial, nós voltamos para o essencial, buscando uma experiência mais intimista, mais conectada com a natureza e mais consciente”.

Sobre sustentabilidade, inclusive, Camilla destaca que que as construções modulares para as Tiny Houses reduzem os impactos da construção convencional. “Principalmente, no que tange ao desperdício”, avalia.

É importante ressaltar que a Ararauna, casinha sobre rodas do Robson, da Isabel e do João Pedro, foi criada por eles e fabricada em steel frame. “Foi uma escolha importante pelo simples fato de nos passar mais confiança no quesito durabilidade e leveza do material”, garante Robson.

A Tiny House da família tem 8,20 metros de comprimento, 2,60 de largura e 4,40 de altura. Em 27m², estão sala, cozinha, dois quartos, escritório e banheiro. Ela foi construída em cima de um chassi com rodas, o que a coloca na categoria de minicasa móvel.

Rapidez da obra, ótimo custo-benefício, sustentabilidade, maior liberdade, entre tantos outros bons argumentos, será que as Tiny Houses são o futuro da arquitetura? “São como cápsulas de uma vida consciente e sustentável e podem representar uma grande tendência para o progresso”, finaliza a arquiteta Camilla Pereira.

REVISTA A&A: Como surgiu a ideia de levar a vida em uma Tiny House?

Robson: Em 2013, nós fomos diagnosticados com Sindrome de Burnout, que é o stress extremo relacionado ao trabalho. Por recomendação médica, iniciamos a prática de Yoga e de meditação.

Começamos a refletir sobre a vida que tínhamos, sobre o quanto a casa de 167m2 tomava nosso tempo e dinheiro pelo alto custo de manutenção e do financiamento imobiliário.

Isabel: Iniciamos mudanças no nosso estilo de vida, passamos a ter uma alimentação mais saudável a base de orgânicos, reduzindo o consumo de industrializados e de origem animal. Introduzimos os conceitos de lixo zero e do consumo consciente no nosso dia a dia, e aderimos ao Minimalismo como estilo de vida.

O que essa escolha ofereceu para a vida de vocês?

Isabel: Liberdade das dívidas e do financiamento imobiliário, liberdade geográfica e a possibilidade de conviver com nossas famílias, que estão espalhadas pelos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul.

Robson: Mudamos de profissões para trabalhar com algo que amamos e que faz parte do nosso dia a dia. Maior convivência familiar, a possibilidade de trabalhar de casa, vendo nosso filho crescer e se desenvolver. Maior qualidade de vida. Menor custo de vida e muito menos tempo dedicado a limpeza, organização e manutenção da casa, e muito mais contato com a natureza.

Quais são os 3 motivos principais para morar em uma Tiny House?

Isabel: Isso é algo bem pessoal e, no nosso caso, os motivos estão diretamente relacionados ao estilo de vida que essas mini casas proporcionam:

- Uma vida sustentável do ponto de vista econômico, de tempo e de preservação do meio ambiente;
- Uma vida livre para se morar em diferentes locais sem estar preso a um terreno ou imóvel fixo;
- Uma vida minimalista, sem excessos e com apenas aquilo que é essencial para nós.

Conte um pouco sobre o dia a dia em uma Tiny House.

Robson: Nós temos uma rotina e respeitamos bastante os espaços e o tempo de cada um. A Bel (Isabel) levanta-se mais cedo para praticar Yoga e Meditação, além de fazer coisas pessoais dela e, assim, começa a rotina de trabalho mais cedo.

Isabel: Robson e João Pedro se levantam um pouco mais tarde, tomam café com calma, e - enquanto Robson começa a rotina de trabalho - o João Pedro vai brincar. Nos dividimos entre as tarefas escolares e da casa. Enquanto um prepara o almoço, o outro cuida das aulas. Almoçamos e depois arrumamos tudo em conjunto. O João Pedro participa de algumas tarefas da casa, ajuda a retirar as coisas da mesa, a varrer o chão, a lavar a louça.

À tarde, ambos focamos no trabalho e o João Pedro fica mais livre para brincar, desenhar e fazer outras atividades que ele gosta, sempre com a gente por perto. Temos o hábito de praticar algum exercício no fim da tarde, depois vem a hora do banho, preparar o jantar juntos, deixar a casa pronta para o outro dia e vamos dormir bem cedo, por volta das 21h/21h30.

Robson: A vida no campo causa essas mudanças em nós. Aos sábados pela manhã. fazemos a limpeza, lavamos roupas, e coisas assim. E o resto do final de semana é para aproveitar e relaxar. Temos o hábito de fazer as refeições na mesa externa, mesmo durante a semana, aproveitamos ao máximo o quintal gigante que temos ao nosso redor.

Por que o nome Ararauna?

Robson: As Tiny Houses sobre rodas recebem um nome de batismo, já que não tem um endereço fixo. Queríamos fazer uma homenagem ao Brasil e escolhemos homenagear a uma das maiores aves brasileiras: a Arara Azul, que também é conhecida como arara-preta ou arara-una (sendo “una”, negro em Tupi).

Isabel: Os motivos dessa escolha são vários. Primeiro, porque as aves são símbolo de liberdade, de migração e de poder ver tudo com uma visão mais ampla e vasta. Segundo, porque para essa ave o seu ninho é considerado um lugar sagrado. Assim, como é a Tiny House para nós. Terceiro, porque são aves sociais e que, geralmente, são encontrados em grupos. E nós adoramos isso também.

Por que, geralmente, as Tiny Houses são casas sobre rodas?

Isabel: As Tiny Houses sobre rodas permitem a pessoa ter uma moradia por um preço acessível, sem necessariamente ter que comprar o terreno.

Robson: As Tiny Houses surgiram nos EUA no final da década de 90, com Jay Shafer. Ele morava em um Trailer, modelo Airstream, mas sentia que não tinha o conforto de uma casa. Ele, então, projetou e construiu sua primeira Tiny House, de apenas 9m2, sobre o chassis de um Trailer. O objetivo era seguir tendo a liberdade, mobilidade e baixo custo de vida, já que por serem documentadas como trailer, as Tiny Houses sobre rodas não pagam IPTU e nem IPVA.

Isabel: Elas nasceram de um movimento socioeconômico e têm como um dos pilares, o estilo de vida minimalista. Quando você tem uma Tiny House sobre rodas, acaba entrando num estilo de vida mais colaborativo, na maioria dos casos a pessoa opta por não ter o terreno, por uma questão socioeconômica ou - meramente - por querer ter uma vida mais livre, sem compromisso fixo com o local.

Robson: Por serem feitas de maneira consciente e não exigir fundação com impermeabilização do solo, por exemplo, as Tiny Houses aparecem também como uma alternativa para aqueles que buscam uma vida mais sustentável. São casas que não agridem o meio ambiente, pois não têm contato com o solo. Quando estacionadas, os apoios elevam os pneus também, ou seja, a natureza segue crescendo e se desenvolvendo debaixo da casa.

Isabel: Outra vantagem é a de você aproveitar a melhor posição solar do terreno, de acordo com a estação do ano. É possível, literalmente, movimentar a casa de acordo com o nascer e pôr do sol, economizando energia.

Vocês são os primeiros brasileiros a viverem numa Tiny House?

Robson: Somos pioneiros na construção, legalização e vida em uma Tiny House sobre rodas aqui no País.

Quem criou o projeto arquitetônico da casinha de vocês?

Robson: Nós mesmos. Em 2017, depois de vender a casa em São Paulo e nos afastar das antigas profissões, nós investimos em uma viagem para os EUA, berço das Tiny Houses. Fizemos workshops, curso de projeto em 3D, visitamos fabricantes, conhecemos moradores e nos hospedamos em duas Tiny Houses.

Isabel: Fora todo tempo de estudo e pesquisa sobre as Tiny Houses, contamos com o cálculo estrutural e consultoria de um Engenheiro Mecânico. As Tiny Houses sobre rodas são um reboque e, por isso, precisa-se de um profissional especializado para assinar o projeto de homologação.

É possível ser mais feliz vivendo numa Tiny House?

Isabel: Para nós é sim, nos sentimos mais leves, com mais tempo livre, com mais liberdade de tempo e financeira.

Qual é o futuro das Tiny Houses no Brasil?

Robson: Acreditamos que será futuro para as pessoas que buscam um estilo de vida mais leve e sustentável. Sabemos que esse estilo de vida não é para todos, mas somos otimistas em dizer que esse movimento vai inspirar, vai provocar reflexões e vai mudar de fato a vida de muitas pessoas.

Ficha técnica

Projeto Arquitetônico: Porto Quadrado
Área Construída: Três casas de 35 m2 (105 m2)
Aço Empregado: Aço 1020; ASTM-A36 e Galvalume para os fechamentos e cobertura
Volume do Aço: 1.440 kg
Projeto Estrutura de Aço: Cobal Aços e Ferros
Execução da Obra: Porto Quadrado e Casa Box
Local: São Francisco de Paula, RS
Conclusão da Obra: 2019

Veja a matéria na íntegra.

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