Nitsche Arquitetos: Casa Guarujá, São Paulo

09/07/2021 | Notícia | Revista Projeto

A intenção de minimizar a quantidade de pilares de sustentação do volume suspenso dos dormitórios teve, neste projeto do Nitsche Arquitetos para residência envolta por Mata Atlântica, no Guarujá, o propósito de fazer do piso intermediário uma laje livre – amplo terraço onde se alternam ambientes cobertos e descobertos. Unifica-se interior e exterior ao se abrir as portas de correr envidraçadas, de modo a evidenciar a vegetação envoltória, e permitir o desfrute da iluminação e ventilação natural, na totalidade dos espaços.

Esta é a segunda casa projetada pela equipe do Nitsche Arquitetos, dos irmãos Lua e Pedro, a ser implantada no condomínio residencial junto à Praia de Iporanga, no Guarujá, litoral sul de São Paulo. A presença marcante de Mata Atlântica primária é um dos qualificadores do empreendimento – bem como a somatória de bons exemplares arquitetônicos nele existentes – mas que, em termos construtivos, implica em restrições importantes. Como por exemplo a pouca taxa de ocupação permitida para as edificações: no máximo 30% do terreno.

Por isso, o programa foi dividido em três níveis pelos arquitetos do Nitsche, sendo o intermediário – um térreo elevado em relação à cota de acesso – uma laje que acomoda os ambientes de estar e lazer; o inferior um volume fechado contendo garagem e áreas de serviço mas aonde há também uma sauna e um dormitório para a dupla de caseiros; e o superior o pavilhão com a sequência de dormitórios da família.

Quando os arquitetos foram contratados para desenvolverem o trabalho havia um projeto anterior aprovado,  que o contratante desejava reformular. A fim de otimizar prazos, porém, decidiu-se pela manutenção do desenho de implantação, ou seja, da posição, dimensão e forma da mancha de ocupação do lote pela casa. “Este foi o desafio maior do projeto”, depõe Lua Nitsche, que cita ainda a sua intenção de simplificar ao máximo a arquitetura associada à tal mancha de ocupação.

Poderia mudar o arranjo entre as partes e, assim, um dos critérios priorizados pelos arquitetos foi a melhor orientação solar da piscina, posicionada Nordeste/Sudoeste. O equipamento está girado 90 graus em relação ao volume suspenso dos quartos e, como evidenciam as fotos de André Scarpa – que foi coordenador do projeto ao lado da sua atual sócia em escritório próprio, Rosário Borges de Pinho -, tem a mata bastante próxima.

A densidade da vegetação envoltória é mesmo uma das peculiaridades do local que, apesar de ser um aspecto qualificador, condiciona a concentração das áreas de lazer ao aberto junto ao núcleo da casa. Foi esta a motivação dos arquitetos para criarem um grande plano livre no pavimento intermediário e, portanto, dos esforços do projeto para que se minimizasse a quantidade de pilares de sustentação dos quartos. São quatro os apoios, metálicos, que descem externamente ao volume da casa até atingirem a fundação.

Nos pilares são descarregados os esforços transmitidos pelo par de vigas metálicas das fachadas, feitas com sistema híbrido: Pratt (com barras diagonais) e Vierandeel (sem barras centrais). Dado o número ímpar de módulos da subdivisão das vigas periféricas associado aos sobrepesos e outros fatores, explica o engenheiro Miguel Maratá, que participou da concepção inicial do sistema junto com os arquitetos, o nicho central pôde permanecer sem barras diagonais, de modo a liberar, sem qualquer interferência, a vista para o entorno. “Uma melhoria arquitetônica associada à estrutura”, comenta o profissional.

Como em todo o conjunto de projetos do escritório Nitsche, o uso de componentes pré-fabricados é aspecto importante do projeto, a exemplo da adoção prioritária da estrutura metálica e da aplicação de placas cimentícias em parte das vedações externas, porém, e sobretudo no que diz respeito às lajes, a moldagem no local esteve à serviço da escolha dos arquitetos de sistemas com menor espessura total: a laje plana de piso e cobertura do volume dos dormitórios e a laje cubeta (com vigas distribuídas ortogonalmente) na cobertura da garagem. Consequentemente, não se vêem vigas na casa, valorizando a linguagem arquitetônica da associação de elementos planos.

A Casa Guarujá é mais um exemplo da qualidade dos projetos do Nitsche: sem excessos – de área nem de especificação de materiais – mas com extrema versatilidade dos espaços (liberdade de uso) e ajustada ao clima local. Quando abertas as portas de correr da sala e da cozinha, por exemplo, parece não haver distinção entre o interior e o exterior da edificação, apenas o confortável sombreamento para se desfrutar da vida em família em meio à exuberante vegetação da Mata Atlântica. (Por Evelise Grunow)

Nitsche Arquitetos
Lua e Pedro Nitsche formaram-se pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP) em 1996 e 2000, respectivamente. Desde 2001, são sócios no escritório Nitsche Arquitetos Associados, em São Paulo. João Nitsche (Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado, 2002) desenvolve projetos visuais.

 

Ficha Técnica:

Local: Guarujá (SP)
Início do projeto: 2015
Conclusão da obra: 2020
Área do terreno: 1.310 m²
Área construída: 393 m²
Arquitetura e interiores: Nitsche Arquitetos - Lua Nitsche e Pedro Nitsche (autores); Rosário Borges de Pinho e André Scarpa (coordenadores); João Nitsche, Rodrigo Tamburus, Anna Laura Prado, Clara Werneck, Claudia Carpes, Denis Ferri, Julia Machado, Gli Barbieri, Luciana Silva, Manuella Leboreiro, Mara Cruz, Marcelo Anaf, Raquel Takamoto, Thiago Pontes (equipe)
Engenheira estrutural: INNER - Ricardo Bozza
Engenheiro mecânico: Marcelo Zamaro
Iluminação: Ricardo Heder - Lux Projetos
Empreiteiro: Caio Lima - Atmos
Fotos: André Scarpa

Fornecedores:
Engemetal (estrutura de aço e serralheria)
Alwitra (impermeabilização)
Leonhardtdecor (marcenaria)
Reka (iluminação)
Zeloart (caixilhos)
Soltis (tela perfurada do brise da fachada)
RCA Fachadas e Forros (forros)

Veja a matéria na íntegra.

 

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